Vulcões da Nova Zelândia
Fotografias: Geólogo e Professor José Carlos Frantz da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Geóloga (CPRM) Juliana Charão Marques
Fontes do Texto: Institute of Geological & Nuclear Sciences (Nova Zelândia) e folhetos explicativos da Zona Vulcânica de Taupo
Há poucos quilômetros de distância a leste da ilha da Nova Zelândia, ao longo do litoral, a Placa do Oceano Pacífico desliza por baixo da Placa Indo-Australiana. Esta área de subducção criou uma linha de vulcões que se estende desde a ilha de Tonga no Pacífico Sul até o vulcão Ruapehu na Nova Zelândia.
O Ruapehu é também o ponto final meridional de uma seqüência de vulcões que se estende através das Ilhas Salomão, cruza as Filipinas, corta o Japão, rodeia a fronteira leste da Rússia, forma as Ilhas Aleutas no Oceano Pacífico Setentrional e estende-se por todo o comprimento da costa oeste das Américas do Sul e do Norte. Este círculo de vulcões é adequadamente denominado de “Círculo (ou Anel) de Fogo do Pacífico”.
O limite entre as placa Indo-Australiana e do Oceano Pacífico é quase que totalmente responsável pela existência da ilha da Nova Zelândia. Os vulcões neozelandeses mostram uma parte dessa energia gerada pelo movimento dessas placas. A região de atividade vulcânica que ocorre desde o Monte Ruapehu até a “Ilha Branca” (White Island) é conhecida coletivamente como a “Zona Vulcânica de Taupo”.
A "Zona Vulcânica de Taupo” é reconhecida como uma das áreas vulcânicas mais ativas do mundo. Ela possui em torno de 250 km de comprimento, varia em largura de 30 a 80 km, e segue uma direção nordeste. Á zona é ancorada ao sul pelos vulcões Tongariro, Ngauruhoe e Ruapehu, todos concentrados dentro do Parque Nacional Tongariro. Alguns quilômetros a norte do parque está a região do vulcão Taupo, com suas magníficas fontes hidrotermais associadas. Ainda mais ao norte, localiza-se a região do vulcão Tarawera e o vale vulcânico de Waimangu. Na margem norte da zona está o vulcão White Island (Ilha Branca), um vulcão ativo situado a 48 km do litoral da Nova Zelândia.
O Parque Nacional Tongariro
Em termos geológicos, as formas topográficas do “Parque Nacional Tongariro” são comparativamente jovens. Há no parque três vulcões andesíticos, Tongariro, Ngauruhoe e Ruapehu. Os dois primeiros são localizados bem próximos e provavelmente fazem parte do mesmo sistema vulcânico. Os vulcões do parque são únicos por causa da combinação de três fatores: a freqüência das erupções, sua natureza altamente explosiva e a elevada densidade de condutos ativos.
O vulcão Tongariro é um maciço vulcânico, com 1.967 metros de altura, com 13 km de comprimento e 8 km de largura, englobando vários condutos que foram ativos durante o último um milhão de anos. Um desses condutos, “Cratera Vermelha (Red Crater)” emitiu cinzas pela última vez em 1926.
O vulcão Ngauruhoe é um vulcão jovem, com 2.291 metros de altura, que começou a se formar em torno de 2.500 anos atrás sobre um vulcão previamente erodido. Ao longo dos séculos a montanha tem sido construída por uma mistura de fluxos de lava e depósitos piroclásticos. O vulcão tradicionalmente erupciona a cada nove anos, ainda que a última erupção tenha ocorrido em 1975. Nessa ocasião, fluxos piroclásticos incandescentes desceram os flancos íngremes da montanha.
A seguir uma sequência de fotografias do vulcão Ngauruhoe ao entardecer:
A região vulcânica de Taupo
O vulcão Taupo existe por mais de 65.000 anos e tem mostrado durante sua existência um padrão aleatório de eventos excepcionalmente grandes, pontuados por pequenas erupções. Este é um padrão típico de todos os grandes vulcões riolíticos da Ilha Norte. A maior erupção do vulcão Taupo ocorreu a 26.500 anos atrás produzindo 300 km3 de ignimbrito, 500 km3 de depósitos de queda de púmice e cinzas, além de um volume desconhecido de material vulcânico depositado hoje dentro da estrutura vulcânica. Imagina-se que esta erupção seja o evento formador da caldeira agora preenchida pelo lago Taupo. A erupção mais recente do vulcão Taupo ocorreu 1.800 anos atrás e consistiu de uma complexa série de eventos. A primeira fase da erupção produziu uma série de cinco depósitos de queda de púmice e cinzas sobre uma grande área da parte central da Ilha Norte. A erupção culminou com um grande e muito energético fluxo piroclástico que devastou uma área de aproximadamente 20.000 km2 e preencheu todos os grandes vales de rios da parte central da Ilha Norte com púmices e cinzas.
Atualmente, não há evidências de agitação no vulcão Taupo, que é monitorado por instrumentos sísmicos e por instrumentos que medem a inclinação do nível do lago. Enxames de pequenos terremotos têm sacudido regularmente a região de Taupo. Aparentemente estes sismos estão associados com linhas de falhas e episódios de subsidência e alargamento contínuo da região, em vez de movimentos de magma.
Wai-O-Tapu
Uma das regiões hidrotermais associadas ao vulcão Taupo é Wai-O-Tapu. A área cobre 18 km2 e tem a maior área de atividade termal na "Zona Vulcânica de Taupo". A área é literalmente coberta com crateras colapsadas, poças de lama fumegantes ou frias, e fumarolas. É associada com atividade vulcânica datada em 150.000 anos, com as primeiras indicações de atividades hidrotermais por volta de 15.000 anos atrás.
A área toda é drenada pelo córrego Wai-O-Tapu que se une ao rio Waitako. Nenhum peixe pode existir neste córrego devido à presença de elementos químicos originados nas numerosas fontes hidrotermais da região.
Entre as inúmeras atrações da região de Wai-O-Tapu destaca-se a “Piscina de Champagne” que é a maior fonte hidrotermal do distrito, possuindo 60 metros de diâmetro e 60 metros de profundidade. Sua temperatura é de 74°C e as bolhas na superfície são originadas pelo desprendimento de Dióxido de Carbono (CO2). A “Piscina” foi formada 900 anos atrás por uma erupção hidrotermal. Os minerais contidos na água são o ouro, prata, mercúrio, enxofre, arsênio, tálio, antimônio, entre outros. Estes minerais são depositados na margem da piscina conferindo a margem uma coloração ocre.
Outra feição da região é o geyser Wai-O-Tapu, que promove erupções diárias. Abaixo uma seqüência de fotografias da erupção diária do geyser Way-O-Tapu:
A região do vulcão Tarawera
O vulcão Tarawera exerce um importante papel na história da Nova Zelândia. Ele é sagrado e está sob a guarda da tribo “Maori”. A região do Tarawera foi um centro de turismo na Nova Zelândia antes de 1886, entretanto a região não tinha nenhuma atividade hidrotermal superficial.
O Tarawera é somente um dos vulcões localizados dentro do “Centro Vulcânico Okataina”, uma área de vários condutos recentemente ativos que afloram entre Roturua e Kawerau. Estes condutos têm erupcionado em tempos pré-históricos e poderão erupcionar novamente algum dia. O Tarawera tem sido formado por erupções vulcânicas de mais de 20.000 anos atrás.
O vulcão Tarawera erupcionou pela última vez no dia 10 de junho de 1886, matando cerca de 150 pessoas, soterrando diversos vilarejos, devastando a paisagem circundante e destruindo todas as plantas, animais e pássaros da região. Magma basáltico extrudiu a partir de uma fissura com 17 km de comprimento, enquanto que que violentas explosões formaram grandes crateras.
A violenta e inesperada erupção do vulcão Tarawera durante as primeiras horas do dia 10 de junho de 1886 foi o maior desastre natural da Nova Zelândia. Por mais de quatro horas aterrorizantes, cinzas e lamas quentes foram arremessadas sobre os vilarejos. O clarão incandescente da erupção e o rugido violento das explosões foram vistos e ouvidos na região de Auckland. Na escuridão do dia, os destroços dos hotéis e casas, e o soterramento de 8 km2 da zona rural, trouxeram espanto e assombro para as equipes de resgate.
A devastação nos vilarejos foi revelada posteriormente por escavações, mas ainda várias pequenas residências permanecem soterradas abaixo de lama e cinzas da erupção.
Atualmente, podemos ter uma “pequena” idéia das forças da natureza que impeliram a grande erupção de 1886 na região do vale vulcânico Waimangu.
Vale Vulcânico Waimangu
A atividade hidrotermal em Waimangu é associada com o limite final sudoeste da fissura de 17 km de comprimento formada em 10 de junho de 1886 durante a erupção do vulcão Tarawera. A fonte de calor para a atividade hidrotermal em Waimangu é gerada pelo vulcão Tarawera. Entre as feições hidrotermais associadas destacam-se crateras fumegantes e poças de lama quente.
Durante a erupção de 1886 foram criadas cerca de 15 crateras na área de Waimangu. Duas dessas crateras são denominadas de “Cratera Echo” e “Cratera do Inferno”.
A Cratera Echo tem sido palco de muitas atividades desde a sua formação. Estas incluem as erupções do geyser Waimangu (1900 até 1904), além das erupções hidrotermais de abril de 1915, abril de 1917, agosto de 1924 e fevereiro de 1973. No dia 01 de abril de 1917, a porção oeste da Cratera Echo erupcionou violentamente, destruindo completamente um alojamento e matando duas pessoas. O aprofundamento e alargamento do lago rapidamente acumularam água, formando o que é agora conhecido como “Lago Frigideira (Frying Pan Lake)”. O lago cobre 38.000 m2, sendo a maior fonte hidrotermal da Terra, com uma profundidade média de 6 metros (com um volume de água de 200.000 m3). A temperatura média da água do lago é de 55°C, enquanto que seu pH é ácido (média de 3,5).
Próximo a Cratera Echo está a Cratera do Inferno, uma relativamente pequena cratera com forma circular. A cratera está sempre fumegando e possui uma coloração azul clara. O nível do lago interno a cratera segue um complicado ciclo rítmico de enchimento e esvaziamento. Sua profundidade é de 30 metros e a temperatura pode chegar a 80°C. A água do lago é extremamente ácida, chegando algumas vezes a um pH de 2,1. A “Cratera do Inferno” é a maior estrutura do tipo geyser da Terra, ainda que essa estrutura hidrotermal não pode ser vista porque o geyser está submerso na base do lago.
Abaixo, cinco fotografias em sequência do "Lago Frigideira", destacando a atividade fumarólica em todas as imagens. A cratera observada logo atrás do lago na primeira foto é a Cratera do Inferno, vista em melhor detalhe na quinta foto.